Jovem que abandona a escola tem mais chances de ter problemas de saúde

Um jovem que não conclui a educação básica tem mais chances de ter problemas de saúde do que o que completa o Ensino Médio. O dado é um dos resultados de um estudo realizado em parceria entre a Fundação Roberto Marinho (FRM) e o Insper, que mostra, ainda, que quem abandona os estudos vive com menos autonomia física e qualidade de vida, além de ter pouco o a serviços de saúde e à informação.
A pesquisa indica que, hoje, 17,5% dos adolescentes de 16 anos abandonaram o colégio —são 575 mil em todo o país.
Segundo a economista e coautora do estudo, Laura Müller Machado, entre as principais razões da evasão escolar, estão a dificuldade de enxergar um significado em estar na escola e a necessidade dos jovens trabalharem e contribuírem com a renda da casa. Quando se trata das meninas, a gravidez na adolescência está no topo dessa lista. "A chance de esse jovem [que abandonou a escola] se envolver ou de ser vítima de episódios de violência também é muito maior quando ele abandona os estudos", diz.
Em termos de renda, a diferença também é brusca. Jovens que não completam a educação básica ganham, durante a vida, R$ 159 mil a menos em relação aos que concluem o Ensino Médio. Essa é a diferença entre o salário da vida toda de quem conclui e quem não conclui a educação básica.
Os pesquisadores dizem que grande parte da evasão escolar acontece nas regiões menos favorecidas do país —principalmente nas periferias, de acordo com o secretário-geral da FRM e ex-secretário de educação do Rio, Wilson Risolia.
"A desigualdade é escancarada quando a gente se aprofunda nesses números. Isso porque pessoas que moram em comunidades e com menos condições financeiras enfrentam muitos obstáculos, desde condições precárias de moradia, de saúde, à falta de dinheiro. É um retrato desse país desigual", explica Risolia.
Violência entre jovens
Hoje, a violência entre jovens custa R$ 26 bilhões por ano ao país —a perda a ser evitada pela redução da violência seria de R$ 45 mil por adolescente. E esse não é o único problema que a evasão escolar gera aos cofres públicos. De acordo com a pesquisa, o Brasil perde R$ 214 bilhões por ano com o abandono de alunos adolescentes. Cada jovem que deixa o colégio, mostram os dados, gera uma perda de R$ 372 mil —quatro vezes mais do que foi investido na educação dele.
"O custo de toda a educação básica (de pré-escola ao Ensino Médio) de uma criança da rede pública fica em torno de R$ 90 mil por estudante. A evasão gera um prejuízo não só à vida do aluno, mas ao país —esse valor representa um custo social que equivale a cerca de 70% do gasto do Governo Federal, dos Estados e do Distrito Federal e dos Municípios com a provisão anual da educação básica", explica Risolia.
"A gente traz esses dados para chamar a atenção para a importância do investimento em educação. Se a sociedade não se comove com as mazelas, não se entristece ao ver uma criança na rua, sem ter a oportunidade de estudar, talvez se comova pelo bolso. Afinal, é muito dinheiro perdido, é um valor que surpreende e espanta", conclui o ex-secretário.
Risolia explica os valores: os jovens que têm educação básica am, em média, mais tempo da vida produtiva ocupados e em empregos formais —com maior remuneração."Além disso, essas pessoas têm maior expectativa de vida com qualidade: a estimativa mostra que cada jovem com educação básica completa vive quatro anos a mais do que quem não terminou a escola. A evasão representa uma perda de 26% do valor da vida de um jovem".
Coronavírus intensifica o que já é "catastrófico"
Desde o começo da quarentena decretada pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em março, crianças e adolescentes têm tido aulas em casa. Entretanto, cerca de metade do contingente de alunos da rede pública não consegue ar as aulas online, como o UOL mostrou nesta reportagem.
Há ainda relatos de professores sobrecarregados e de evasão por parte de alunos da EJA (Escola de Jovens Adultos). Segundo a presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Isabel Azevedo Noronha, menos da metade dos estudantes da rede pública têm o aos conteúdos disponibilizados no aplicativo online. Risolia estima que os dados referentes ao período da pandemia serão ainda "mais catastróficos".
"O que já era ruim ficou pior em tudo o que permeia a desigualdade no Brasil. Quem não tem saneamento tem sido mais contaminado pelo coronavírus, já que a higiene é primordial. Com a educação, é a mesma coisa. A gente vê diferenças gritantes regionais e de classe social no que diz respeito aos estudos, o que, com o ensino à distância, só piora", afirma.
Laura explica que "quem é menos favorecido economicamente e não tem tecnologia em casa para acompanhar as aulas online tende a abandonar a escola, agora, ainda mais intensamente. Além disso, o desemprego cresceu, e há alunos que precisam deixar os estudos para ajudar a comprar comida. Esses problemas já não eram triviais, e, agora, só se acentuaram".
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